Como a Polícia Científica detecta metanol em bebidas falsificadas

Tecnologia e métodos avançados garantem precisão nas análises e ajudam a confirmar adulterações
A Polícia Científica tem papel fundamental na investigação e identificação de bebidas adulteradas. O trabalho começa ainda pela aparência: embalagens, rótulos e tampas são conferidos em busca de irregularidades. Depois, as amostras passam por testes em laboratório, onde é possível detectar substâncias tóxicas que oferecem risco à saúde. Cada etapa ajuda a confirmar se o produto é original, falsificado ou adulterado.
Após o fechamento de locais irregulares e suspeitos de fornecer bebidas adulteradas, as forças de segurança recolhem as garrafas. O próximo passo é encaminhar todo o material à perícia, que realiza exames documentais e laboratoriais.
Primeiro, as bebidas apreendidas passam por uma fase de verificação externa da garrafa, feita pelo setor de Documentoscopia, que é minuciosa e requer atenção a cada detalhe. Em seguida, têm início os trabalhos laboratoriais.

Análise das embalagens e identificação de falsificações
Por meio da Documentoscopia, o perito amplia a imagem dos selos, lacres e embalagens para identificar diferenças entre o original e o falso. A embalagem é colocada em um equipamento que auxilia os agentes a observar detalhes como relevos e carimbos. O mesmo método também é utilizado para detectar documentos e dinheiro falsificados.
“Um selo falso já é um indicativo de que pode ter havido a reutilização de uma garrafa autêntica para a inserção de líquido falsificado”, explicou a diretora do núcleo, Nícia Harumi Koga. “Com as imagens ampliadas no Comparador Espectral de Vídeo, conseguimos comparar os elementos gráficos e identificar as diferenças, além da qualidade inferior do produto falsificado, confirmando que as embalagens foram adulteradas”, completou.
No passo seguinte, o frasco é encaminhado ao Núcleo de Química, onde passa por testes para verificar a presença de metanol na bebida. Primeiro, os peritos analisam a composição química e, depois, utilizam equipamentos como o espectrômetro de massa e o cromatógrafo, que identificam e separam os componentes da amostra. Essa tecnologia permite medir com precisão a quantidade de metanol existente no líquido e determinar se ela ultrapassa os níveis tolerados.
“Não basta dizer se há ou não metanol. É preciso identificar quanto existe e se está acima da quantidade normal já presente em algumas bebidas”, explicou o perito Alexandre Learth, do Centro de Exames, Análises e Pesquisas (Ceap).
De acordo com as investigações, as bebidas falsificadas apresentam concentrações de metanol muito maiores do que as encontradas em produtos regulares. O especialista alerta que a ingestão de apenas 10 mililitros da substância pode causar lesões no nervo óptico e, em doses iguais ou superiores a 30 mililitros, levar à morte. A comparação com padrões originais fornecidos pelos fabricantes também faz parte do processo, garantindo que os especialistas consigam confirmar se a bebida corresponde à composição de um produto autêntico ou se foi adulterada.

Atuação conjunta e resultados das operações
Há anos, a Polícia Científica atua em parceria com as polícias Civil e Militar no combate a laboratórios e fábricas clandestinas de bebidas adulteradas. Essa experiência tem garantido respostas rápidas e eficazes às recentes ocorrências. “Isso permitiu dar uma resposta ágil aos casos atuais”, afirmou o perito Learth.
Até o momento, 192 casos foram registrados, sendo 178 ainda em andamento e 14 já confirmados. No total, cerca de 60 operações foram realizadas em bares, festas, distribuidoras e fábricas clandestinas. Em apenas sete dias, mais de 7 mil garrafas com suspeita de falsificação foram apreendidas, além de tampas, rótulos e outros insumos usados na produção.
Nesta semana, 20 suspeitos foram presos, entre eles o maior fornecedor de materiais para falsificação de bebidas no estado. Ainda segundo as informações, até esta segunda-feira (06), mais de 50 mil garrafas foram apreendidas e 41 pessoas presas.
Fonte: SSP-SP